quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sara *

A Sara não me respeita. E nem parece disposta a fazê-lo. Nas vezes em que a visitei, sempre me recebeu da mesma forma: nervosa e arredia.

Da última vez ela estava deitada sobre um amontoado de cascas de arroz. Mal me viu, levantou-se e assumiu sua costumeira posição de ataque (ou de velada defesa?).

Mas eu a entendo: tudo o que faz é no intuito de proteger os seus... Até gosto dela: original e espontânea, de falsidades não posso acusá-la.

O que ela precisa é de alguma afirmação – o que, na sua condição canina, não deve ser muito difícil.

* Sara é uma cadela labrador, e lembra o Vincent, do seriado Lost.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Rótulos (ou Escada ao Cadafalso)

Definir-me?
Das duas, uma:
Ou estaria a mentir,
Ou condenar-me-ia à prisão perpétua.

(Neste caso, quão familiar este Sr. Samsom!)

Perspectiva

Algumas irrelevâncias têm tomado meu tempo. Dos novos gatos da vizinha ao calendário de 2001 fixado no alto da sala-de-estar do vizinho, tudo tem suas razões. Inconseqüência e desleixo? Amor aos bichanos e desapego ao mundano? Sei lá... só sei que essas sutis originalidades são como portas da percepção para mim.

Tenho recuperado aquela capacidade de me divertir com fatos irrelevantes. Digo “recuperado” porque todos a tínhamos na infância - mas daí vêm os tombos, as esperanças, os desejos... e a gente acaba se perdendo. Até se (re)encontrar em definitivo.

As coisas são cíclicas, sabe? Coisas velhas vêm e vão, com novas roupagens. Mas, na essência, viver é fácil. É só não encher a pocilga demais.


Eu sempre pedi alguma indiferença para quando me espalhasse por aí. Alguma liberdade. A liberdade do anonimato. Não desconfiava eu que tal indiferença tinha de partir de mim mesmo.

“E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vida dos insetos...”