terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Gregos

Viagem à lua, que nada! A maior façanha dos modernos é ignorar os gregos.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sobre a decadência

...estilhaçado o mais fino cristal, os convivas trataram logo de achar um culpado: era a empregada, que não aparecia pra limpar.

Seguiu-se o baile; mas agora, perdido o pudor inicial, os festantes jogavam vinho nas cortinas de seda, falavam em alto som, vomitavam sobre os tapetes de peles e transavam em pé sobre as mesas de vime.

(Séculos depois, contariam os livros, a decadência seria culpa da empregada.)

Arroubos

Eu tenho a loucura dos gênios...

Só me falta a genialidade.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lili

Um poeminha que Lili me escreveu:

Antes do fim dos tempos
Subiremos em camelos voadores
E iremos todos ao casamento
Do gago com a tautologia

E ai de quem perguntar a ela o que isso significa!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sobre quão séria a vida é

Se a morte anda à espreita, a vida anda de velocípede.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Agnóstico

Um dia perguntou-se se de fato deus existiria. Ficou na dúvida. E na dúvida, e porque se tratava de assunto assim tão sério, passou a acreditar.

O Ateu

Um dia perguntou-se se de fato deus existiria. Ficou na dúvida. E na dúvida, e porque se tratava de assunto assim tão sério (logicamente falando), jurou a deus não acreditar.

Figuras sublimes

Eu nunca conheci um santo, por exemplo...
A essas figuras sublimes, ninguém conhece!
Bom mesmo é estar no ideário:
Ser mãe, santo, herói de quadrinhos,
mantidos no imaginário para que sobrevivam ao mundo real.

Breve Fábula Sobre As Pequenas Empolgações Coletivas

...e diante de toda a confusão dos dias atuais, o velho registrador dirigiu-se aos pais da criança:

- E o sexo? Qual será o sexo dela?

Os pais, que até então não haviam conversado a respeito, concluíram que a natureza deveria decidir. Não consideravam justo impor à filha que representasse um ou outro papel na vida. Afinal – disse o pai, com o dedo em riste -, “quem define, limita”.

A isso se sucederam aplausos, lágrimas, gritos de emoção. Um vereador da pequena comuna proferiu um discurso inflamado sobre a liberdade do ser. O circo fez questão de desfilar pelo centro da cidade, e sobre o grande elefante branco foram cosidas as insígnias da modernidade: "Liberté, Egalité, Fraternité". Projetaram a construção de um enorme pórtico na entrada do lugarejo, para ilustrar a grandeza do povo local. Um filósofo grego, dado por morto há séculos, tornou a lecionar na praça central. A pacata cidade viveu os seus mais belos dias - dias de eufórico idealismo.

Alheio à empolgação geral, o escrevinhador assentou, serenamente: “A ver”.

E depois certificou: “Pais ausentes do ato”.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Censura

A dita dura ditadura talvez não fosse tão dura assim como querem fazer a nossa geração pensar que foi. Grandes artistas musicais da época faziam menções nada subliminares em suas canções. Reclamações escancaradas, exortando a população a reagir contra o regime. Ou a censura era surda, ou estão mentindo para a gente.

Acorda, amor (do disco "Sinal Fechado", Chico Buarque, 1974)

Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer

Acorda, amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa, não reclame
Clame, chame lá, clame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Samba a um

Todo dia esse vai e vem
Que mal dá pra acreditar
E amanhã tem outra vez
Vamos ter que aguardar

Vamos ter que aguardar
Passar esse vai e vem
E torcer pra que amanhã
Não tenha isso outra vez

# Por favor, diga pra mim
Que esse cansaço, mormaço
Da vida em que eu me encontro
Vai passar, vai passar

#Ah, minha querida
Foi-se o tempo da abastança
E hoje na balança do armazém
Não passei, não passei

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Waking Life


(Pedro tragou um bom gole de café, fechou os olhos, esvaziou a mente, voou pela janela, deixou os colegas de trabalho aturdidos, o chefe, uma fera, gritos de raiva, ordenou-lhe que voltasse imediatamente ao setor 22, onde deveria catalogar o arquivo histórico-financeiro por data, cheiro, qualidade, titulação e timbragem, depois tentou acertar-lhe com a espingarda, mas Pedro voava longe, junto com os pássaros, carro-chefe na formação em v rumo ao leste, rosto ao vento, ao sol, à chuva, ao relento, à relva, peito aberto, sem medo, sem volta, a papelada que se fodesse, foi indo e iu, primeiro casas, depois campos, montanhas, até o litoral, descanso, paz.)

O Crime: pensamento soltos


Existem homens bons e existem homens maus. Mas todos podem escolher o seu caminho, em maior ou menor grau.

O abastado tem todas as condições de ser bom, embora as facilidades a que tem acesso possam corromper-lhe a alma. As necessidades pelas quais passa o pobre podem levá-lo a atos vis, embora o suor diário dignifique.

A centelha e a tentação vivem lado a lado dentro de nós.

Pobreza não é atestado de isenção penal.

Riqueza não deveria ser atestado de isenção penal.